sexta-feira, 9 de março de 2012


meu nome é isaias sales ibã,  etnia povo huni kuin, mesmo kaxinawa, eu moro na aldeia xiku kurumin, município do jordão, meu objetivo de trabalho professor, atualmente professor-pesquisador espírito da floresta, o conhecimento que huni kuin tem...

nasci no dia 28 de março de 1964, no seringal fortaleza, terra indígena do rio jordão, eu sou filho do índio seringueiro...

eu me cresci mais no seringal fortaleza, na colocação volta grande, quando eu tinha treze anos eu me alfabetizei junto com meu pai;
em 1983 nós recebemos um convite da comissão pró-índio pra se formar professores indígenas, participei três meses de curso pra formação, eu voltei, já me fiquei diferente, senti minha vida diferente;
continuamos o trabalho que é alfabetizando com meu povo: meu irmão, meu sobrinho, meu cunhado, meu, primo;
em 84 nós ficamos na responsabilidade da demarcação da nossa terra e fiquei mais continuando trabalho de conhecimento, desde antes de eu entrar pra alfabetização eu alfabetizei na minha língua, a cantoria do meu pai, que final da tarde ele canta, sempre me dava muita vontade de chegar ao meu conhecimento;
com 28 anos eu comecei a entrar nos conhecimentos tradicionais: medicina e a cantoria do cipó e ao mesmo tempo a cantoria do katxa nawa, também chamado mariri, e a nossa crença, como chama batismo, nas pinturas de dente, em tudo isso eu me interessei muito, eu fiquei na responsabilidade do conhecimento mais antigo do meu pai que aprendia junto com seu povo, os antigos;
em 2000 nós mergulhamos no conhecimento que meu pai me deixou, deu pra mim maior presente, maior prazer, eu tô na responsabilidade pra repassar com meu povo, [e] não é só do meu povo, nós temos muito povo que tem dificuldade para conhecer estes conhecimentos tradicionais;
aproveitei o conhecimento do meu pai, o meu pai era uma pessoa de conhecimento, grandes autores que chamava txana, eu sou filho do txana, txana é uma coisa cantor, uma coisa conhecimentos que tem tradicionais;
e a formação: em 2002 eu fiz os conhecimentos chamados magistério indígena, tanto conhecimento, um pouco de matemática, ciências, estudos sociais, trabalho que o nawa fez eu conheci pouco, mas eu formei no conhecimento das nossas origem, terminei conhecimento verdadeiramente, o que nós temos;
eu fiquei muito preocupado, através do conhecimento da nossa língua [que] estamos perdendo trinta e seis por cento e como nós recuperar;
eu pensei, estou trabalhando pela parte da educação é hora de ensinar pro meu povo, é isso que eu colhi é o conhecimento do meu pai, sobre a cantoria do cipó;

antes de entrar nessa formação promovida pela comissão pró-índio, eu já ia há muito tempo ligado com o trabalho do meu pai de conhecimento através de bebida sagrada, cipó;
ele tomava, eu acompanhava com ele como ele faz, como ele processa e trabalha em feitio principalmente, quando eu era [tinha] mais ou menos cinco anos de idade eu acompanhava [passei a acompanhar] todo esse trabalho;
mas como chegou nós vinha com todas as carreiradas dos caucheiros peruanos e dos nordestinos seringalistas, através [atrás] do látex fez correria no povo huni kuin;
não tem como organizar a nossa identidade e do século dezenove pra cá, nós perdemos quase todos os nossos arquivos importantes, aqueles velhos com toda a sabedoria;

temos 29 anos de trabalho nesses conhecimentos e a gente tava registrando essas histórias do huni kuin não é surgida agora, não é agora que a gente vai mostrar, já há muito tempo que a gente vinha com o nosso processo, esse conhecimento que eu tô registrando pesquisei junto com meu pai romão sales tuin kaxinawa;

essa música, desde 1992 que a gente iniciou trabalho de pesquisa em espírito da floresta;
a gente aproveitou durante a formação publicamos vários materiais didáticos, dentro dos nossos ensinamentos com nossos alunos, fizemos dois livros com espírito da floresta, tem dois discos;
a formação que a gente tem, como eu sou pesquisador do espírito da floresta com canto do nixi pae e com canto do nixi pae publicamos já material didático dessa música e registramos já a cantoria, o registro dos velhos, principalmente os pajés mais antigos: tuin, iskenti e muru, eu pesquisei junto com [esses] três velhos;
então durante [a pesquisa com] esses três velhos eu não encontrei, na nossa língua chama debes, tem debes, quer dizer a música, nossas histórias, e continua as histórias cada vez mais, não tem fim

esse trabalho [de pesquisa] de espírito da floresta é só das cantorias do meu pai, mas ao mesmo tempo eu pesquisei [a música] com três velhos: com o velho romão, meu pai, o velho miguel, vem lá do envira, há muito tempo morando no jordão, e a nova geração também com responsabilidade, o seu agustinho que já há muito tempo tem experiência junto com meu pai, pesquisava também, aprendi também em relação à música;
aprendi com meu pai, o velho romão, ele faleceu em 2007;
quando terminei com ele, aí outro velho chamam o agustinho, que eu aprendi também junto com ele, perguntando pra ele: aprendeu com quem, qual o significado... ele sempre repassa alguma coisa de explicação;
e vai outro pajé, eu chamo velho miguel, que vem lá de muito tempo do purus até agora morando no jordão, esse é o velho miguel, chama miguel macário, o último que fez [com quem eu fiz] a cantoria do cipó;

essa música é nossa, essa música pode agora mesmo ficar publicada pelas escolas, na floresta pra os alunos novos que pode cuidar desse trabalho que a gente está fazendo, pra todas as comunidades indígenas, tanto kaxinawa, família não-kaxinawa, família pano, quem gosta de música do cipó, quem gosta de tomar cipó, que pode tratar desse trabalho que a gente tá fazendo;
agora quem não tem conhecimento é igual... não significa nada esse nosso trabalho, quem já sabe relacionar desse trabalho de bebida verdadeira é isso que a gente tá fazendo;
ainda tem muitas músicas, a gente vai trazendo pra deixar registro bem claro do nosso arquivo;
dois pajés somente eu registrei a música dele, agora fiz mais pesquisa junto com meu pai, isso eu fiz mais;
fico muito contente por não deixar acabar essa linda música;
pra fortalecer dentro da nossa comunidade, eu estou indo nesse rumo, não posso mais deixar fraco, não posso deixar mais assim... hoje os meninos novos, estão vindo as coisas novas, de repente vão sumir-se, de repente vão esquecer... por isso me interessei, hoje nós estamos já em registro, 58 músicas já registradas, com tudo isso já distribui com as várias comunidades kaxinawa, não-kaxinawa... não é só [para o] povo kaxinawa, mas vário povos [do tronco lingüístico] pano já lendo, já entrando nesse rumo, refletindo, como hoje nós estamos trabalhando relação de pesquisa junto com os professores que estão formando, pode pensar mais na frente; 
não é só o povo kaxinawa que tem música, tem vários povos [do tronco lingüístico] pano vivendo aqui no estado do acre, que estão na mesma história, no mesmo sentido;
eu acho que vai desenvolver mais esse conhecimento que a gente está trazendo de muito longe, que o nosso povo fazia, hoje já está na nossa mão, esse que é meu interesse muito, essa música... além disso eu vou mais agora, pensei, pesquisei, eu vou desenhar cada palavra dentro da música, isso que eu me interessei mais, pra mim avançar com minha formação de estudo, muito obrigado, isso que eu quero registrar, eu estou deixando mais claro pro povo desse trabalho;

esse desenho que a gente tá fazendo, é isso que é a música de acompanhamento que é relacionado  com encanto dos pássaros, o céu, muito antigos e tradicionais essa música que nós estamos fazendo, acompanhando cada palavra que nós estamos dando nós estamos fazendo de desenho agora, pra ver como significa, o que a música diz;
a música que vem diz, tudo pássaro, jibóia, uma pessoa que nós não conhecia;
é isso que a gente está iniciando um trabalho muito importante pra se mais entender [entender-se mais], relacionado com todos os espíritos da floresta que a gente toma e que a gente vê quando vem a miração chegando, trazendo esses espíritos da floresta e mostrando toda essa realidade, então é isso que é o início que nós estamos começando o trabalho junto com o professor cleber [bane], principalmente a pesquisa que a gente está fazendo junto, hoje nós estamos registrando, nós já fizemos dois livros, importante também o que nós estamos cantando dentro da cantoria o povo do nosso povo brasileiro melhor entender essa relação que tem, como diz na música;
então nossa língua tem isso, dentro da música que diz pássaro, jibóia, pessoa, caça, animais da floresta, o que vive na floresta, música do cipó diz;
então nós hoje vamos fazer desenho com que nós estamos fazendo já, nós temos pesquisa pronta dentro do livro, agora nós estamos fazendo uma ilustração importante pra iniciar a mostrar pra todo o povo, não é só nosso povo não, vários povos aqui no estado do acre, fora do estado podemos mostrar essa relação;

txã mane beime vem como um tipo de buzo, buzina, igual buzinando, essa música você trata igual sopro, igual soprando, um tipo de buzina, várias buzinas que nós temos: aviso, buzina mesmo só pra animação, buzina de miração; tem buzo de rabo de tatu, buzo de cerâmica, então quando vem a força é igualmente o buzo: vvvuuummm... então é isso que nós fizemos [desenhamos] um tipo de buzo;

a música nós [não] estamos mais fazendo levantamento não, já tem levantamento da nossa música tudinho, nós fizemos mais assim entender a palavra que a gente fala, cada palavra fala muita coisa quando você está explicando, uma palavra já é muitas coisas: com[o] japó, vem com anta, anta ligado com veado, veado ligado com porquinho, porquinho ligado com tatu, tatu ligado com jibóia, jibóia ligada com água, água ligada com céu, céu ligado com a terra... esse é o desenho do meu filho, cleber pinheiro sales, bane, que desenhou, que a gente tava, eu só dando idéia, explicação... ele que vai seguir idéia que eu tô dando pra ele, nós estamos começando agora, esse aqui nosso início, nossa capa e nós estamos gostando jé como eu falei;
você fala cantando a música é só a música que você está entendendo, cada palavra tem isso, uma palavrinha que você diga por acaso: nai mãpu [yubekã], já nai céu, mãpu é o pássaro, yube já é jibóia;
essa, o nome da música chama nai mãpu yubekã: é [nesse] um pedaço já muita palavra que nós diz, cada pedacinho remendado; nai é o céu, mãpu é o pássaro, yube é a jibóia; então diz assim, nai mãpu yubekã, todos esses três remendados juntos, que nós fala; então nessa música tem vários animais da floresta que nós fala dentro da música;
mais ou menos, o sentido que a gente tem relacionado com a nossa música ligado com todos os espíritos, de animais, que vive, que nós come, que nós não come, o som que tem da floresta, então isso traz dentro do cipó, que já há muito tempo, desde a nossa pré-história vem essa palavra muito antiga que nós estamos usando, essa é nossa identidade muito sério, nosso símbolo do huni kuin que nós iniciamos agora por ilustrar e melhorar o entendimento da relação, do caminho do cipó; assim, traduzir é muito difícil, mais antigo não existia essa tradução, mas vou pelo menos... dá pra entender o que já tem entendimento com a relação, acostumado com a bebida sagrada, quem toma cipó...
agora eu tô trazendo as músicas, trazendo e transformando essas cantorias, mas transformando de novo a mesma cantoria vai se mudar agora no desenho, não é pesquisa realmente realizada, essa pesquisa é inicial; hoje não tem mais como perder esses conhecimentos, hoje nós estamos querendo incentivar, dentro da nossa comunidade, e [não é] só do kaxinawa não, através dos vários povos do estado do acre, quem gosta de beber ayahuaska, os desenhos vão registrar histórias que a gente estava pesquisando, essa história que estava finalizando, finalmente com desenho...

dauka ma esse explica, que dauku ma diz bico do nambu que está riscando o céu, igual assim que a miração faz, um tipo de riscamento assim, vai embora, então diz isso, trata com, explica com desenho essa relação com dautibuya...
desde o século dezenove pra cá nós perdemos quase todos os nossos arquivos importantes, os velhos com toda sabedoria e [quase] acabava tudo, mas... não acabava tudo, nós perdemos, povo huni kuin esses conhecimentos, muito sentido que a gente tem pra buscar hoje a incentivar o conhecimento e dentro desse movimento, tanto movimento do conhecimento na universidade e vai continuar essa busca de conhecimento é meu interesse, não é interesse de ninguém [por trás de mim], é interesse meu que é minha tarefa, essa que eu tô cuidando pra não parar esse movimento importante que a gente tem;
hoje agora é hora, somos terra demarcada, nós não temos mais correria assim, hoje temos tranqüilidade, por que nós recebemos um pedacinho de terra e agora é hora de nós organizar o nosso conhecimento e nossa cultura, importante registrar o que tem do nosso conhecimento, é isso que eu proponho, é essa minha vontade, esse o meu gosto de fazer o trabalho com muito prazer e ainda mais buscando conhecimento;
olhando do meu lado também, a formação que eu tô olhando do meu lado, os alunos já vem acompanhando a gente, a pesquisa que a gente tá trazendo, os alunos huni kuin, no nosso hatxa kuin (idioma), é mais fácil aprender e mais fácil compreender;
então, eu trazendo através do hatxa kuin, do nosso próprio hatxa kuin, através das músicas vários [alunos] da terra [indígena] não é só do jordão, vai pro [terra indígena do] breu, vai pro [terra indígena do] humaitá, vai pro [terra indígena do] muru, aquele parente do caucho; onde já perdemos os conhecimentos, é hora de receber desses conhecimentos importante através das músicas, das nossas músicas;
essa é a proposta que a gente tem txai, essa é minha proposta, a gente ir buscando o conhecimento;
não é só pra mim: - ah, esse aqui é meu, não vou registrar não, só se me paga...
não quero nada, esse aqui é pra mim registrar mesmo, é muito tempo já guardado, não quero mais guardar muito tempo não, agora é hora mesmo pra nós trabalhar em cima, com tudo isso, com nossos alunos novatos;
e não é só pra ficar por aqui não, cada um dos alunos que é mais inteligente vai fazendo mais muita coisa ainda; que eu tô só abrindo pra eles, pro meu povo, pra iniciar esse desenho, tem muitas músicas que não dá conta, infinitas músicas que nós temos, muito obrigado, meu nome é ibã...
eu gostaria também, todo mundo mais de mergulhar nessa pesquisa que a gente tá pesquisando, quem toma cipó, quem gosta desse cuidar, de zelar da nossa identidade, principalmente é isso que eu tenho vontade de trazer para o meu povo...

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