terça-feira, 13 de março de 2012

o espírito da floresta

o povo huni kuin

meu nome é ibã, na primeira língua; na segunda língua isaias sales; nasci em 1964, terra indígena alto rio jordão;
eu vou falar sobre as tradições de conhecimento do nosso povo huni kuin, o que viviam e faziam, principalmente dos conhecimentos do meu pai, que aprendia com seu povo mais antigo, com seu pai principalmente, com seus tios, com seus primos, com seus cunhados, esse é o povo mais atrás, muito tempo;
meu pai nasceu na aldeia que hoje chama araçá, alto rio jordão, nas terras da aldeia novo segredo; meu pai é um homem conhecedor de todos os conhecimentos da tradição, chamado txana; eu sou filho do txana, txana quer dizer um homem de conhecimento de todas as tradições; o meu pai tem esse conhecimento, ele é filho do seu francisco menezes, conhecido por xiku kurumin, ele é dua bake, que é a família das caças, dos animais, da onça pintada; ele aprendeu seu conhecimento com seu povo: francisco menezes, com chico mirim, com rio branco, biló, joão sereno, artur, sampaio, então eles, essa família vem de muito longe, vem do pessoal do rio envira, vem do rio purus, vem do tempo da correria, do século dezenove, vinha correndo, se defendendo do nordestino, dos caucheiros peruanos que atacavam todas as fronteiras dos nossos rios; o povo huni kuin vem correndo, perdendo seus conhecimentos, muitos processos deixaram de fazer, com tudo isso até chegar no rio jordão;

dentro do rio jordão, o meu pai nasceu no meio do seu povo, ele acompanhava os conhecimentos, todas as várias festas: festa de txirin, festa de bunawa, festa de mariri, festa mesmo de pajelança como hoje nós estamos falando da ayahuaska; então meu pai conhecia tudo, ao mesmo tempo com as ervas, conhecimento das ervas medicinais, ele aprendia, perguntava pro pai dele da bebida sagrada, perguntava como podia fazer com ervas medicinais, perguntava como organizava as festas da tradição; então meu pai aprendia nesses conhecimentos tudinho;
quando seu pai tem conhecimento bom, você acompanha tudo;
nesse tempo que eu nasci em 64 meu pai era homem de cativeiro, homem escravo do patrão seringalista que estavam chegando, do nordestino, do caucheiro peruano; o meu avô foi encontrado pelos cearenses, se misturou um pouco com o acreano, criou-se junto com cearense, por isso que meu pai falava língua portuguesa, lia um pouco;
nessa época, meu avô vinha na carreira, não tinha como fazer festa de tradições, meu pai também entrava no processo de trabalho, cortava seringa e fazia roçado pro povo branco, aí não tinha mais como fazer festa importante; mas nunca deixava, sempre algum escondidinho, fazia sua festa;
não tinha como fazer mais como fazia essas tradições no kupixawa [maloca] não, aí perdemos o conhecimento, quer dizer esquecemos os conhecimentos, não tem como fazer;
quando você vai fazer, o povo branco chega e diz: - isso é besteira, você não entende, fala direito...
e essas coisas todas... mas não perdeu nada, bota tudo dentro do conhecimento, só no pensamento;
enfim, aí eu ia crescendo, meu pai sempre no final da tarde cantando, sempre fazia preparo com seu povo, aí era a vontade crescendo, e meu pai nesse conhecimento dele, aprendeu com seu tio mais antigo, com família mais antiga; e a família mais antiga foram embora, falecendo no seringal, das doenças que vem com o branco, doenças desconhecidas, sarampo, coqueluche, malária, febre amarela e matou todos aqueles importantes todos;
desde o século dezenove pra cá nós perdemos quase todos os nossos arquivos importantes, os velhos com toda sabedoria e [quase] acabava tudo, mas... não acabava tudo, nós perdemos, povo huni kuin esses conhecimentos, mas hoje tem muitas maneiras pra buscar incentivar o conhecimento;

romão

desde quando eu nasci, quando eu tinha 5 anos de idade meu pai fazia festa de tradição bonita, chamada festa de katxanawa, fazia festa de batismo, fazia [festa de] txirin com seu povo;
eu me interessei muito nas cantorias da ayahuaska que ele cantava, aprendia várias músicas nos seus conhecimentos antigos, com seu povo mais antigo, aprendia com eles;
aí eu cresci olhando meu pai fazer preparo de ayahuaska, tirando as ervas... aí comecei a perguntar, quando eu era já grande, perguntava o que significa isso que tá fazendo, aí meu pai me passava: - olha, essa bebida é sagrada... e contava a história, como surgia essa bebida, ele me contava as histórias de como povo huni kuin como nós encantava com animal chamado jibóia;
eu fiquei muito curioso nesses conhecimentos do meu pai; de vez em quando meu pai fazia festa de pajelança, eu interessado participava, mas eu não comungava, eu era menino, somente eu olhava, chegava na hora de sono eu ia dormir...
meu pai comungava ayahuaska junto com seu povo, meu pai pintava com urucum; quando tomava ayahuaska, no outro dia ele tomava banho com as ervas e eu perguntava: - mas o que você tá fazendo...
- esse aqui meu filho, essa bebida nossa, porque eu tô fazendo festa de pajelança com seus tios, com seu avô, eu tô fazendo pra ver, tratar desse cidadão que tá doente e pode melhorar; essa ayahuaska serve pra ver nosso futuro, pra ver nosso passado, pra ver o presente meu filho, esse é um encanto, não tem como dizer; muito antes de nós nascer já tinha ela em nossa cultura, esse aqui é nosso, do huni kuin...
aí no final da tarde meu pai cantava, me dava muita vontade, isso que o conhecimento do meu pai fazia, aí eu me aprofundei, até chegar a hora certa pra mim, eu comecei a ter vontade de fazer como meu pai fazia;
então os conhecimentos do meu pai vem assim, conhecimento mais com o povo dele, não é que vem e aprende com qualquer um não, vem com o povo dele, aprendeu com o pai dele, o pai dele aprendeu com o pai do meu avô, esses conhecimentos já vinha... muito antigo a música tradicional da ayahuaska, principalmente eu falo assim do conhecimento da ayahuaska;

mais único que ficou foi meu pai, um cara muito interessado, muito sabido, aí eu acompanhava tudo esse processo do meu pai, do conhecimento dele, com o respeito dele com as tradições eu me interessei muito, com mais idade que eu tenho, chegando idade, meu pai cantava no final da tarde, eu perguntava qual era o significado dessas músicas, aí me deu mais vontade quando ele fala o significado pra mim:
- essa música cura parente, sopra na hora o parente doente, dor de cabeça, dor no estômago, dor no corpo, essa ayahuaska mostra, ela traz pensamento pra você tratar com seu povo, deve ter muito respeito nossa bebida tradicional ayahuaska;
eu me interessei no conhecimento do meu pai e comecei a praticar, a aprender, o meu pai me ensinava oralmente, eu aprendi na oralidade, até que chegou a demarcação da nossa terra em 85, eu já tinha 19 anos, quando nós recebemos demarcação da terra em 85;
antes, quando vinha na carreira, não tem como fazer a festa importante como meu avô fazia, aí meu pai sempre contava as histórias, só nas histórias do meu pai, e eu não tenho conhecimento como meu pai fazia tinha, então eu pensei vou pedir a meu pai:
- então pai, hoje nós temos nossa terra demarcada, nós não estamos mais corrido assim de perder nossos conhecimentos, então eu quero que você vai organizar pra nós, eu tô me interessando muito com meu povo, meus irmãos, minhas irmãs, meus cunhados, meus primos, nós queria ver, como nós jovens podíamos fazer...
aí meu pai começa a mostrar:
- olha, esse é katxanawa, essa é festa de batismo, essa festa de ayahuaska, como prepara, o feitio, como pode temperar a ayahuaska;

espírito da floresta

temos 29 anos de trabalho nesses conhecimentos e a gente tava registrando essas histórias do huni kuin não é surgida agora, não é agora que a gente vai mostrar, já há muito tempo que a gente vinha com o nosso processo, esse conhecimento que eu tô registrando pesquisei junto com meu pai romão sales tuin kaxinawa;
eu pratiquei já o conhecimento, quando eu saí com 19 anos, eu me desloquei pra cidade pra formar  professor; aí eu comecei estudando, de 1983 até 2000; aí eu terminei o magistério e os professores me deram tarefa: - ibã, agora você vai pesquisar seus conhecimentos, você já terminou seu magistério, agora você vai aprofundando mais os seus conhecimentos;
mas ao mesmo tempo, eu tinha escrito pouco do meu conhecimento; eu voltei e comecei a perguntar pro meu pai: - pai, agora não é só no oral, agora eu tô aprendendo a ler e a escrever e eu quero registrar, escrever, não quero mais esquecer, na oralidade, quem tem cabeça boa, ele vai aprender, quem tem cabeça meio ruim é muito difícil ele aprender oralmente;
aí eu fiquei então nessa, nunca mais vai esquecer, nunca mais vai perder dentro do meu coração, dentro do meu pensamento tava pensando; então eu comecei a perguntar de novo, ele vai me dar agora resposta certinha;
nesses cantos da ayahuaska tem três tipos de música que nós cantamos: chamava a luz, yube txanima; chamava dau tibuya, ver as mirações, e kayatibu, marear com a força; três partes que nós cantamos na cerimônia do espírito da floresta ele me ensinou essas três passagens diferentes:
- olha, essa aqui só pra chamar a luz, essa só pra miração, essa na hora mesmo que você vai falando com ele, pra mandar embora, chama diminuir a força;
então eu pratiquei três posições, três caminhos da nossa música, aí isso que eu comecei a escrever; comecei a escrever na nossa língua e produzindo no caderno, todos os anos eu participava do curso de formação, eu trazia meu caderno e mostrava: - é assim? e falavam pra mim: - é nesse rumo aí esse trabalho...
em 2000, terminando o meu magistério, já entreguei 52 músicas, escritas, eu não estava acompanhando mais meu pai só na oralidade, meu pai me ensinava som, eu já acompanhava na escrita, cantando na escrita, praticando na escrita; 
aí fiquei cada vez mais olhando, então olhando por outro lado, esse conhecimento ficava de longe, pra nós o povo jovem huni kuin, nós não fala mais nossa língua direito, nós não sabe contar nossos mitos, nós não sabe cantar as nossas músicas tradicionais importantes, a gente ficava já muito longe;
era isso que eu estava pensando, então nesses conhecimento do meu avô, do primo do meu avô, do conhecimento do meu pai, então agora eu vou juntar tudo, eu quero escrever, nesse que ficando registro da música;
em 2000 eu já entreguei livro ao mesmo tempo, desse trabalho todo resultado de cantoria do meu pai, saiu o livro que eu botei o nome, chama espírito do floresta;

essa música, desde 1992 que a gente iniciou trabalho de pesquisa em espírito da floresta;
a gente aproveitou durante a formação publicamos vários materiais didáticos, dentro dos nossos ensinamentos com nossos alunos, fizemos dois livros com espírito da floresta, tem dois discos;
então registro dessa já tem cd de cantoria pronto, registro onde a gente começou a cantoria, já tá escrito pronto, aí olhando pelo outro lado, eu terminei meu magistério e agora tô entrando no processo de se formar na universidade;
ao mesmo tempo eu tô com meus alunos, com meus sobrinhos, com o acelino, que fez os desenhos do primeiro livro que eu fiz, ilustrando a história da ayahuaska, que escrevi na língua portuguesa; e já tendo livro da minha pesquisa, tenho que dar continuidade; agora eu olhando essas cantorias, essas frases; essa frase eu quero transmitir, transformar com desenho essa fala do espírito do floresta;

desenhos

então isso que eu comecei junto com os meus alunos, ensinando meus alunos: - testa pra nós, desenhar...
aí começamos desenho: a jibóia, desenho dos pássaros que nós falamos, não é desenho que nós inventamos não, desenho que tá explicando na música, aí surgiu esse desenho de cantoria;
em 2002 pra 2003 eu começava a juntar os alunos, que a maioria já tá me acompanhando bem nesse trabalho, e comecei a mandar desenhar, principalmente comecei a mandar a desenhar o meu filho, bane: - bane, experimenta esse desenho como eu tô falando... quando eu falo ele vai me acompanhando com todos esses desenhos;
aí olhando ele fazer esse desenho deu pra entender: - porque eu tô fazendo esse desenho? porque o povo branco... essa bebida ayahuaska não é só pra indígena não, em vários lugares já espalhou; em cima disso nós estamos apresentando esse nosso conhecimento, só apresentando música, os txai tem muita curiosidade: de onde é que surgiu, quem que fala... então melhor que eu explicar esses pontos, melhor explicação no desenho;
pensei assim, pra melhor o povo que não conhece essa bebida das tradições, melhor entender dessa regra, dessa regra do espiritual que nós fala; aí comecei trabalhando com desenho, com os alunos, chegou o professor assessorando nosso trabalho, eu estava na faculdade, encontrei o txai amilton, mostrando desenho, ele tinha formado em mestrado com artes... 
aí que eu comecei a olhar, então vai agora surgir essa música, não é mais música imaterial não, agora vai ser material, vem de longe, o imaterial nós vamos colocar material pra ver;
por exemplo, na música que diz txã mane beime vem como um tipo de buzo, buzina, igual buzinando, essa música você ouve igual sopro, igual soprando, um tipo de buzina, várias buzinas que nós temos: aviso, buzina pra animação, buzina de miração; tem buzo de rabo de tatu, buzo de cerâmica, então quando vem a força, é igualmente o buzo: vvvuuummm... então é isso que nós desenhamos, um tipo de buzo;
nós fizemos mais assim entender a palavra que a gente fala, cada palavra fala muita coisa quando você está explicando, uma palavra já é muitas coisas: como japó, vem ligado com anta, anta ligado com veado, veado ligado com porquinho, porquinho ligado com tatu, tatu ligado com jibóia, jibóia ligada com água, água ligada com céu, céu ligado com a terra...
essa música que chama nai mãpu yubekã: nesse pedaço já tem muita palavra, cada pedacinho remendado; nai é o céu, mãpu é o pássaro, yube é a jibóia; então diz assim, nai mãpu yubekã, todos esses três remendados juntos, que nós fala; então nessa música tem vários animais da floresta que nós fala dentro da música;

então, em 2010 saiu uma lei lei de incentivo à cultura; o que nós vamos incentivar?
essa ayahuaska é coisa muito realidade, conhecimento do meu pai, então foi assim que eu comecei desenho; em 92, eu comecei agora registrar o conhecimento do meu pai, até escrever tudo, depois de terminar escrita, agora surge essa música no desenho, pra mostrar, pra ver tanto as crianças, pra ver os brancos, pra ver em vários lugares;
em 2011 nós recebemos pequena ajuda do governo pela lei de incentivo à cultura; eu convidei agora os artistas indígenas, nós fizemos um encontro de artistas-desenhistas indígenas na aldeia mae bena no alto rio tarauacá, onde meu filho trabalhava como professor, passamos 15 dias construindo material, imaterial fazendo material, com trabalho muito importante; o resultado dessa conversa é que nossa cantoria virou agora pequeno filme pra entender;
então no dia 23 de agosto apresentamos nosso trabalho numa exposição em rio branco, junto com apresentação musical do grupo de cantores huni kuin do jordão e artistas convidados;
agora o txai está organizando, editando trabalho que nós estamos querendo entregar, fazendo pequeno filme de txai puke dua, de kayatibu, de yube txanima... então o txai tá nessa responsabilidade e eu na responsabilidade de juntar com o povo, organização;

eu agradeço muito desse trabalho que a gente tá fazendo, nesse trabalho que a gente tem é muito forte, forte o que, forte a língua, na música eu encontro que a língua é realidade dentro da nossa música, por isso que a nossa música vem, é música, a cantoria vai terminar por aí não, é infinito, vai embora, não tem fim como: - ah, vou terminar esse conhecimento...não! não tem fim esses conhecimentos que eu tô fazendo, vamos continuar mais trabalho mais importante, tanto daqui, eu vou entregar também a todos os mestres o conhecimento que a gente tem, eu mergulho mais com a ayahuaska... são vários conhecimentos que nós temos, mas a realidade que eu achei foi esse conhecimento com as ervas medicinais e a ayahuaska, eu posso dizer mantendo a qualidade da minha vida de aprendizagem junto com a minha comunidade;
essa busca de conhecimento é meu interesse, não é interesse de ninguém por trás de mim, é interesse meu que é minha tarefa, essa que eu tô cuidando pra não parar esse movimento importante que a gente tem;
hoje agora é hora, temos terra demarcada, não temos mais correria; hoje temos tranqüilidade, por que nós recebemos um pedacinho de terra e agora é hora de nós organizar o nosso conhecimento e nossa cultura, importante registrar o que tem do nosso conhecimento, é isso que eu proponho, é essa minha vontade, esse o meu gosto de fazer o trabalho com muito prazer e ainda buscando mais conhecimento;

sexta-feira, 9 de março de 2012


meu nome é isaias sales ibã,  etnia povo huni kuin, mesmo kaxinawa, eu moro na aldeia xiku kurumin, município do jordão, meu objetivo de trabalho professor, atualmente professor-pesquisador espírito da floresta, o conhecimento que huni kuin tem...

nasci no dia 28 de março de 1964, no seringal fortaleza, terra indígena do rio jordão, eu sou filho do índio seringueiro...

eu me cresci mais no seringal fortaleza, na colocação volta grande, quando eu tinha treze anos eu me alfabetizei junto com meu pai;
em 1983 nós recebemos um convite da comissão pró-índio pra se formar professores indígenas, participei três meses de curso pra formação, eu voltei, já me fiquei diferente, senti minha vida diferente;
continuamos o trabalho que é alfabetizando com meu povo: meu irmão, meu sobrinho, meu cunhado, meu, primo;
em 84 nós ficamos na responsabilidade da demarcação da nossa terra e fiquei mais continuando trabalho de conhecimento, desde antes de eu entrar pra alfabetização eu alfabetizei na minha língua, a cantoria do meu pai, que final da tarde ele canta, sempre me dava muita vontade de chegar ao meu conhecimento;
com 28 anos eu comecei a entrar nos conhecimentos tradicionais: medicina e a cantoria do cipó e ao mesmo tempo a cantoria do katxa nawa, também chamado mariri, e a nossa crença, como chama batismo, nas pinturas de dente, em tudo isso eu me interessei muito, eu fiquei na responsabilidade do conhecimento mais antigo do meu pai que aprendia junto com seu povo, os antigos;
em 2000 nós mergulhamos no conhecimento que meu pai me deixou, deu pra mim maior presente, maior prazer, eu tô na responsabilidade pra repassar com meu povo, [e] não é só do meu povo, nós temos muito povo que tem dificuldade para conhecer estes conhecimentos tradicionais;
aproveitei o conhecimento do meu pai, o meu pai era uma pessoa de conhecimento, grandes autores que chamava txana, eu sou filho do txana, txana é uma coisa cantor, uma coisa conhecimentos que tem tradicionais;
e a formação: em 2002 eu fiz os conhecimentos chamados magistério indígena, tanto conhecimento, um pouco de matemática, ciências, estudos sociais, trabalho que o nawa fez eu conheci pouco, mas eu formei no conhecimento das nossas origem, terminei conhecimento verdadeiramente, o que nós temos;
eu fiquei muito preocupado, através do conhecimento da nossa língua [que] estamos perdendo trinta e seis por cento e como nós recuperar;
eu pensei, estou trabalhando pela parte da educação é hora de ensinar pro meu povo, é isso que eu colhi é o conhecimento do meu pai, sobre a cantoria do cipó;

antes de entrar nessa formação promovida pela comissão pró-índio, eu já ia há muito tempo ligado com o trabalho do meu pai de conhecimento através de bebida sagrada, cipó;
ele tomava, eu acompanhava com ele como ele faz, como ele processa e trabalha em feitio principalmente, quando eu era [tinha] mais ou menos cinco anos de idade eu acompanhava [passei a acompanhar] todo esse trabalho;
mas como chegou nós vinha com todas as carreiradas dos caucheiros peruanos e dos nordestinos seringalistas, através [atrás] do látex fez correria no povo huni kuin;
não tem como organizar a nossa identidade e do século dezenove pra cá, nós perdemos quase todos os nossos arquivos importantes, aqueles velhos com toda a sabedoria;

temos 29 anos de trabalho nesses conhecimentos e a gente tava registrando essas histórias do huni kuin não é surgida agora, não é agora que a gente vai mostrar, já há muito tempo que a gente vinha com o nosso processo, esse conhecimento que eu tô registrando pesquisei junto com meu pai romão sales tuin kaxinawa;

essa música, desde 1992 que a gente iniciou trabalho de pesquisa em espírito da floresta;
a gente aproveitou durante a formação publicamos vários materiais didáticos, dentro dos nossos ensinamentos com nossos alunos, fizemos dois livros com espírito da floresta, tem dois discos;
a formação que a gente tem, como eu sou pesquisador do espírito da floresta com canto do nixi pae e com canto do nixi pae publicamos já material didático dessa música e registramos já a cantoria, o registro dos velhos, principalmente os pajés mais antigos: tuin, iskenti e muru, eu pesquisei junto com [esses] três velhos;
então durante [a pesquisa com] esses três velhos eu não encontrei, na nossa língua chama debes, tem debes, quer dizer a música, nossas histórias, e continua as histórias cada vez mais, não tem fim

esse trabalho [de pesquisa] de espírito da floresta é só das cantorias do meu pai, mas ao mesmo tempo eu pesquisei [a música] com três velhos: com o velho romão, meu pai, o velho miguel, vem lá do envira, há muito tempo morando no jordão, e a nova geração também com responsabilidade, o seu agustinho que já há muito tempo tem experiência junto com meu pai, pesquisava também, aprendi também em relação à música;
aprendi com meu pai, o velho romão, ele faleceu em 2007;
quando terminei com ele, aí outro velho chamam o agustinho, que eu aprendi também junto com ele, perguntando pra ele: aprendeu com quem, qual o significado... ele sempre repassa alguma coisa de explicação;
e vai outro pajé, eu chamo velho miguel, que vem lá de muito tempo do purus até agora morando no jordão, esse é o velho miguel, chama miguel macário, o último que fez [com quem eu fiz] a cantoria do cipó;

essa música é nossa, essa música pode agora mesmo ficar publicada pelas escolas, na floresta pra os alunos novos que pode cuidar desse trabalho que a gente está fazendo, pra todas as comunidades indígenas, tanto kaxinawa, família não-kaxinawa, família pano, quem gosta de música do cipó, quem gosta de tomar cipó, que pode tratar desse trabalho que a gente tá fazendo;
agora quem não tem conhecimento é igual... não significa nada esse nosso trabalho, quem já sabe relacionar desse trabalho de bebida verdadeira é isso que a gente tá fazendo;
ainda tem muitas músicas, a gente vai trazendo pra deixar registro bem claro do nosso arquivo;
dois pajés somente eu registrei a música dele, agora fiz mais pesquisa junto com meu pai, isso eu fiz mais;
fico muito contente por não deixar acabar essa linda música;
pra fortalecer dentro da nossa comunidade, eu estou indo nesse rumo, não posso mais deixar fraco, não posso deixar mais assim... hoje os meninos novos, estão vindo as coisas novas, de repente vão sumir-se, de repente vão esquecer... por isso me interessei, hoje nós estamos já em registro, 58 músicas já registradas, com tudo isso já distribui com as várias comunidades kaxinawa, não-kaxinawa... não é só [para o] povo kaxinawa, mas vário povos [do tronco lingüístico] pano já lendo, já entrando nesse rumo, refletindo, como hoje nós estamos trabalhando relação de pesquisa junto com os professores que estão formando, pode pensar mais na frente; 
não é só o povo kaxinawa que tem música, tem vários povos [do tronco lingüístico] pano vivendo aqui no estado do acre, que estão na mesma história, no mesmo sentido;
eu acho que vai desenvolver mais esse conhecimento que a gente está trazendo de muito longe, que o nosso povo fazia, hoje já está na nossa mão, esse que é meu interesse muito, essa música... além disso eu vou mais agora, pensei, pesquisei, eu vou desenhar cada palavra dentro da música, isso que eu me interessei mais, pra mim avançar com minha formação de estudo, muito obrigado, isso que eu quero registrar, eu estou deixando mais claro pro povo desse trabalho;

esse desenho que a gente tá fazendo, é isso que é a música de acompanhamento que é relacionado  com encanto dos pássaros, o céu, muito antigos e tradicionais essa música que nós estamos fazendo, acompanhando cada palavra que nós estamos dando nós estamos fazendo de desenho agora, pra ver como significa, o que a música diz;
a música que vem diz, tudo pássaro, jibóia, uma pessoa que nós não conhecia;
é isso que a gente está iniciando um trabalho muito importante pra se mais entender [entender-se mais], relacionado com todos os espíritos da floresta que a gente toma e que a gente vê quando vem a miração chegando, trazendo esses espíritos da floresta e mostrando toda essa realidade, então é isso que é o início que nós estamos começando o trabalho junto com o professor cleber [bane], principalmente a pesquisa que a gente está fazendo junto, hoje nós estamos registrando, nós já fizemos dois livros, importante também o que nós estamos cantando dentro da cantoria o povo do nosso povo brasileiro melhor entender essa relação que tem, como diz na música;
então nossa língua tem isso, dentro da música que diz pássaro, jibóia, pessoa, caça, animais da floresta, o que vive na floresta, música do cipó diz;
então nós hoje vamos fazer desenho com que nós estamos fazendo já, nós temos pesquisa pronta dentro do livro, agora nós estamos fazendo uma ilustração importante pra iniciar a mostrar pra todo o povo, não é só nosso povo não, vários povos aqui no estado do acre, fora do estado podemos mostrar essa relação;

txã mane beime vem como um tipo de buzo, buzina, igual buzinando, essa música você trata igual sopro, igual soprando, um tipo de buzina, várias buzinas que nós temos: aviso, buzina mesmo só pra animação, buzina de miração; tem buzo de rabo de tatu, buzo de cerâmica, então quando vem a força é igualmente o buzo: vvvuuummm... então é isso que nós fizemos [desenhamos] um tipo de buzo;

a música nós [não] estamos mais fazendo levantamento não, já tem levantamento da nossa música tudinho, nós fizemos mais assim entender a palavra que a gente fala, cada palavra fala muita coisa quando você está explicando, uma palavra já é muitas coisas: com[o] japó, vem com anta, anta ligado com veado, veado ligado com porquinho, porquinho ligado com tatu, tatu ligado com jibóia, jibóia ligada com água, água ligada com céu, céu ligado com a terra... esse é o desenho do meu filho, cleber pinheiro sales, bane, que desenhou, que a gente tava, eu só dando idéia, explicação... ele que vai seguir idéia que eu tô dando pra ele, nós estamos começando agora, esse aqui nosso início, nossa capa e nós estamos gostando jé como eu falei;
você fala cantando a música é só a música que você está entendendo, cada palavra tem isso, uma palavrinha que você diga por acaso: nai mãpu [yubekã], já nai céu, mãpu é o pássaro, yube já é jibóia;
essa, o nome da música chama nai mãpu yubekã: é [nesse] um pedaço já muita palavra que nós diz, cada pedacinho remendado; nai é o céu, mãpu é o pássaro, yube é a jibóia; então diz assim, nai mãpu yubekã, todos esses três remendados juntos, que nós fala; então nessa música tem vários animais da floresta que nós fala dentro da música;
mais ou menos, o sentido que a gente tem relacionado com a nossa música ligado com todos os espíritos, de animais, que vive, que nós come, que nós não come, o som que tem da floresta, então isso traz dentro do cipó, que já há muito tempo, desde a nossa pré-história vem essa palavra muito antiga que nós estamos usando, essa é nossa identidade muito sério, nosso símbolo do huni kuin que nós iniciamos agora por ilustrar e melhorar o entendimento da relação, do caminho do cipó; assim, traduzir é muito difícil, mais antigo não existia essa tradução, mas vou pelo menos... dá pra entender o que já tem entendimento com a relação, acostumado com a bebida sagrada, quem toma cipó...
agora eu tô trazendo as músicas, trazendo e transformando essas cantorias, mas transformando de novo a mesma cantoria vai se mudar agora no desenho, não é pesquisa realmente realizada, essa pesquisa é inicial; hoje não tem mais como perder esses conhecimentos, hoje nós estamos querendo incentivar, dentro da nossa comunidade, e [não é] só do kaxinawa não, através dos vários povos do estado do acre, quem gosta de beber ayahuaska, os desenhos vão registrar histórias que a gente estava pesquisando, essa história que estava finalizando, finalmente com desenho...

dauka ma esse explica, que dauku ma diz bico do nambu que está riscando o céu, igual assim que a miração faz, um tipo de riscamento assim, vai embora, então diz isso, trata com, explica com desenho essa relação com dautibuya...
desde o século dezenove pra cá nós perdemos quase todos os nossos arquivos importantes, os velhos com toda sabedoria e [quase] acabava tudo, mas... não acabava tudo, nós perdemos, povo huni kuin esses conhecimentos, muito sentido que a gente tem pra buscar hoje a incentivar o conhecimento e dentro desse movimento, tanto movimento do conhecimento na universidade e vai continuar essa busca de conhecimento é meu interesse, não é interesse de ninguém [por trás de mim], é interesse meu que é minha tarefa, essa que eu tô cuidando pra não parar esse movimento importante que a gente tem;
hoje agora é hora, somos terra demarcada, nós não temos mais correria assim, hoje temos tranqüilidade, por que nós recebemos um pedacinho de terra e agora é hora de nós organizar o nosso conhecimento e nossa cultura, importante registrar o que tem do nosso conhecimento, é isso que eu proponho, é essa minha vontade, esse o meu gosto de fazer o trabalho com muito prazer e ainda mais buscando conhecimento;
olhando do meu lado também, a formação que eu tô olhando do meu lado, os alunos já vem acompanhando a gente, a pesquisa que a gente tá trazendo, os alunos huni kuin, no nosso hatxa kuin (idioma), é mais fácil aprender e mais fácil compreender;
então, eu trazendo através do hatxa kuin, do nosso próprio hatxa kuin, através das músicas vários [alunos] da terra [indígena] não é só do jordão, vai pro [terra indígena do] breu, vai pro [terra indígena do] humaitá, vai pro [terra indígena do] muru, aquele parente do caucho; onde já perdemos os conhecimentos, é hora de receber desses conhecimentos importante através das músicas, das nossas músicas;
essa é a proposta que a gente tem txai, essa é minha proposta, a gente ir buscando o conhecimento;
não é só pra mim: - ah, esse aqui é meu, não vou registrar não, só se me paga...
não quero nada, esse aqui é pra mim registrar mesmo, é muito tempo já guardado, não quero mais guardar muito tempo não, agora é hora mesmo pra nós trabalhar em cima, com tudo isso, com nossos alunos novatos;
e não é só pra ficar por aqui não, cada um dos alunos que é mais inteligente vai fazendo mais muita coisa ainda; que eu tô só abrindo pra eles, pro meu povo, pra iniciar esse desenho, tem muitas músicas que não dá conta, infinitas músicas que nós temos, muito obrigado, meu nome é ibã...
eu gostaria também, todo mundo mais de mergulhar nessa pesquisa que a gente tá pesquisando, quem toma cipó, quem gosta desse cuidar, de zelar da nossa identidade, principalmente é isso que eu tenho vontade de trazer para o meu povo...